segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Naire, o ilustre desconhecido

Postagem do YouTube com a versão original da música "Companheiro" na voz do Naire.


Há cinco anos criamos a Rádio Boca Livre (www.radioweb.bocalivre.org). Depois de um ano de atividade ininterrupta tocando sempre o melhor da música brasileira recebi do meu amigo Sidnei (pesquisador de música de raiz residente em Goiânia) um DVD reunindo somente música goiana ligada a MPB. Lá estava o disco do cantor e compositor goiano chamado Naire. Até então eu imaginava que não tinha o menor conhecimento desse artista. Ouvindo disco constatei que na minha tenra infância em Jataí (Goiás) no início da década de setenta eu tinha ouvido algumas músicas na Rádio Difusora de Jataí (AM), dentre elas: 15 Anos, Ave Maria e, claro, Companheiro.

O País vivia uma grande efervescência cultural na virada dos anos setenta e a incipiente MPB revelava mais de uma centena de grandes cantores, compositores,arranjadores e instrumentistas. E não é que o goiano Naire conseguiu emplacar vários sucessos nacionais em seu primeiro e, lamentavelmente, único disco. Ele com certeza marcou a trajetória de muita gente por esse imenso Brasil.

Agora, 36 anos depois do lançamento desse disco o compositor volta a ser lembrado com a sua música "Companheiro" colocada como tema de abertura da nova novela das seis da Rede Globo intitulada Araguaia. O que é absolutamente lamentável é o desprezo da TV Globo pelos cantores e compositores que contribuem com as trilhas sonoras das aberturas de suas novelas. Nesta, pra não fugir à regra, não consta nos créditos o nome da música, nem o nome da cantora e, muito menos, o nome do compositor do tema de abertura. Lamentável!!!

A primeira gravação de "Companheiro" foi feita por Naire num compacto simples lançado pela RGE no início dos anos setenta. Só em 1974 ele conseguiria gravar o seu primeiro e único disco.

Um detalhe curioso no primeiro disco do Naire é a presença ilustre de Paulinho Tapajós na época já consagrado como um grande cantor e compositor no cenário musical brasileiro. O disco reúne oito composições feitas em parceria entre Naire e Paulinho Tapajós e participação vocal de Tapajós nas músicas “15 anos” e “Duas Irmãs”. Destaque para “15 Anos” que fez grande sucesso e “Paz de Penedo”, minha música favorita no disco. Outra curiosidade foi a gravação de “Ave Maria”, parceria do grande Roberto Menescal e Paulinho Tapajós que também fez sucesso na interpretação de Naire.

Quem desejar conhecer um pouco mais da história do Naire deverá recorrer ao livro MPB em Goiás – compositores dos anos 70 (1ª parte) escrito pelo meu amigo Reny Cruvinel (jornalista e músico integrante do Grupo Essência de Goiânia). No lançamento do livro foi realizado um show com participação de vários artistas goianos interpretando as canções que foram levantadas na pesquisa do Reny. Foi a partir do show que surgiu a ideia de produzir um CD com a músicas historicizadas no livro. Inclusive, a gravação de “Companheiro” com Maria Eugênia que está na abertura da novela Araguaia está nesse CD. Caso alguém se interessar na aquisição do livro entre em contato com o autor pelo e-mail: renycruvinel@gmail.com

Há tempos eu encontrei num deses blogs que postam músicas uma crítica super favorável a este disco do Naire publicada no Jornal Estado do Paraná em 05/05/1974. Hoje tive que “navegar” bastante para reencontrá-la. Ela esta postada no site Toque Musical:

http://toquemusical.wordpress.com/2007/10/20/naire-1974

Lá você poderá linkar o “Tablóide Digital” e encontrar a postagem original da crítica que me refiro e que publicarei aqui. Mas fiz questão de publicar também o texto introdutório do responsável pelo site que postou o disco do Naire para ser baixado.

“Não faz muito tempo, logo que surgiu o Orkut, em uma comunidade de vinil raro em que eu fazia parte, recebi de um amigo um arquivo zipado deste disco. Fiquei muito impressionado com o trabalho do artista que até então eu não conhecia. Infelizmente no arquivo não incluía o encarte nem qualquer outra informação. Depois de muito procurar, acabei achando a capa em um blog de um japonês. Como era muito pequena a imagem e de pouca resolução, deixei no comentários o pedido uma cópia da capa. (Se tem uma coisa que acho o fim da picada são esses blogs de música que não incluem a arte, ou quando o fazem é de maneira grosseira. Não dá nem tesão de ouvir o disco.) Depois de alguns meses, recebo um e-mail com a tal capinha (infelizmente não tão boa quanto eu esperava). De qualquer forma, acho que chegou a hora de postá-lo. Não vou indicar o blog do japa porque ele assim o quer. Como se trata de um álbum um tanto obscuro, pouca coisa se tem a seu respeito na rede. Só mesmo visitando o “Tablóide Digital”, um blog que reúne textos publicados do jornalista Aramis Millarch, para conseguir a informação que repasso neste toque para vocês. Segue a baixo o artigo dele, publicado no Jornal Estado do Paraná em 05/05/1974. É nessas horas que a gente entende a diferença entre notícia e informação. Salve o Armis!” (Toque Musical)

Conheçam Naire…. com atenção!
Afinal aconteceu a primeira revelação do ano. Ele se chama Naire, simplesmente, e está chegando num excelente lp da RGE (303.023, março/74), que infelizmente esqueceu de distribuir um press-release para informar quem é o moço, de onde veio, o que pensa. Mas o que afinal não diminui o impacto de sua estréia. Produzido por J. Shapiro, com direção artística de Toninho Paladino e arranjos de Luiz Cláudio Ramos, Naire gravou este seu primeiro disco nos estúdios da CBS, na GB, com a participação de um grupo de bons músicos: Antonio Adolfo, Mamão, Chacal, Chiquinho, Alexandre, Luiz Claudio, Chiquinho do Acordeon, Batô, Laudir, Fernando Leporace, Pascoal e Franklim (flauta).

O repertório não poderia ser melhor: Naire abre com uma das músicas que consideramos das melhores de 73 “15 anos”, que compôs” em parceria com Paulinho Tapajós e que na Phono – 73 foi defendida por Nara Leão. Uma letra sensível e inteligente, que se apropriou perfeitamente a Nara Leão, que dela nos falou de entusiasmo quando aqui esteve no ano passado. Paulinho Tapajós é aliás o grande amigo e parceiro e de Naire, participando inclusive de duas faixas: “Duas Irmãs” e “Quinze Anos”. Juntos fizeram para este lp as faixas “Menestral das Cabras” (com um leve toque de Zé Rodrix e seu rock rural), “Um dia Azul de Abril” e, “Bendito Seja”, “A Donzela”, “Paz de Penedo”, “Duas Irmãs” e “Feliz Feliz”. Com Tiberio Gaspar, Naire compôs “Companheiro”, Chá de Jasmimn” e “Passeio Público”. Exclusivamente sua é “A Vida é Agora”. E o inspirado “Ave Maria” de Roberto Menescal - Paulinho Tapajós é a única faixa que não teve sua participação como autor.

Voz suave, personalíssima, arranjos agradáveis e sobretudo o bom gosto dos arranjos e competência dos músicos escolhidos para acompanhá-lo nas 13 faixas deste lp digno, honesto e sensível. Anotem o nome de NAIRE. Ou melhor: comprem o seu disco. Vale os Cr$ 32,00 que custa. (Aramis Millarch)

Abaixo a relação das músicas contidas no disco:

01 – 15 Anos (Naire - Paulinho Tapajós) – Participação vocal de Paulinho Tapajós
02 – O Menestrel das Cabras (Naire - Paulinho Tapajós)
03 – Um Dia Azul de Abril (Naire - Paulinho Tapajós)
04 – Companheiro (Naire - Tibério Gaspar)
05 – Bendito Seja (Naire - Paulinho Tapajós)
06 – Ave Maria (Roberto Menescal - Paulinho Tapajós)
07 – Chá de Jasmim (Naire - Tibério Gaspar)
08 – Donzela (Naire - Paulinho Tapajós)
09 – Paz de Penedo (Naire - Paulinho Tapajós)
10 – Passeio Público (Naire - Tibério Gaspar)
11 – A Vida é Agora (Naire)
12 – Duas Irmãs (Naire - Paulinho Tapajós) – Participação vocal de Paulinho Tapajós
13 – Feliz Feliz (Naire - Paulinho Tapajós)

"Companheiro" Música tema de Abertura (completa - composição de Naire e Tibério Gaspar na interpretação da cantora goiana Maria Eugência.


Abertura da novela Arguaia da TV Globo (música "Companheiro" interpretada por Maria Eugênia com corte)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Rádio Web Boca Livre, o show não pode parar!

Olá, amigos e parceiros da Rádio Web Boca Livre!

Lá se vão cinco anos desde que iniciamos este trabalho em favor da grande música brasileira. Mas a verdade é que o que parece simples tornou-se uma tremenda aventura. O universo virtual é, sem a menor dúvida, um grande desafio. Durante esses cinco anos enfrentamos todos os tipos de dificuldades para manter a Boca Livre na web que jamais poderíamos imaginar. Mas aqui estamos! Felizes por continuar a realizar um trabalho extremamente gratificante, afinal, que ofício poderia ser mais prazeroso que distribuir “pérolas musicais” nesse universo infinito. Certamente atingimos pessoas dos mais distantes lugares do planeta levando a fantástica música brasileira.

Depois de vencermos um por um dos problemas surgidos ao longo desse período, continuamos na luta. Os parceiros mais antigos perceberão a mudança no visual de nosso sítio, entretanto, a sua é essência continua a mesma, ou seja, tocar o melhor da produção musical brasileira. Nesse amplo cenário de possibilidades estéticas, rítmicas e melódicas continuamos pesquisando os grandes talentos do passado e lançando a audição para as novas promessas do presente. Esta é a razão da existência da Boca Livre. Divulgar os grandes artistas tupiniquins e sociabilizar com nossos parceiros ouvintes os tesouros musicais que surgem por todas as regiões deste imenso Brasil. Sim, “pérolas” belíssimas que, geralmente, são “pisoteadas” ou jogadas nos porões das gravadoras e dos grandes impérios da comunicação pelos “porcos” capitalistas que só visam lucros aviltantes com a comercialização da música, preferindo sempre a opção mais lucrativa divulgando criações menores de fácil aceitação popular em detrimento da imensa capacidade dos músicos brasileiros de criarem obras imortais.

A Boca Livre segue seu caminho na contramão desse mecanismo perverso. Aqui desfilam gênios musicais como Moacir Santos, Pixinguinha, Radamés Gnatalli, Capiba, Noel Rosa, Villa-Lobos, João do Vale, Cartola, Itamar Assumpção, Chico Buarque, Almir Sater, Lenine, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Cazuza, Tom Jobim, João Gilberto; intérpretes sublimes como Elis Regina, Clara Nunes, Tânia Maria, Maria Bethânia, Flora Purin, Clementina de Jeus, Milton Nascimento, Miltinho, João Nogueira, Nelson Gonçalves, Tim Maia, Roberto Ribeiro; instrumentistas fantásticos como Ernesto Nazaré, Milton Banana, Wilson das Neves, Arthur Moreira Lima, Jacob do Bandolin, Altamiro Carrilho, Márcio Montarroyos, Hélio Delmiro, Nico Assumpção, Airto Moreira, Sivuca, o magnífico “bruxo dos sons” Hermeto Pascoal e novos talentos como Tereza Cristina, Pedrinho Miranda, Marcos Sacramento, Céu, Moyseis Marques, Bena Lobo, Rodrigo Campos. Evidente que a lista é quase infindável diante da qualidade musical de nossos conterrâneos, mas a citação destes nomes sugere a dimensão do potencial da Boca Livre.

Então, amigos e parceiros, cá estamos seguindo o nosso sonho de compartilhar com as novas e velhas gerações de todos os lugares do planeta, especialmente com nossos irmãos brasileiros, a diversidade e a riqueza de nossa música. A missão é não deixar que tanta coisa linda se perca de nós.

Beijo a todos!

www.radioweb.bocalivre.org